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Quase 60% deixariam o tráfico se tivessem renda, aponta pesquisa

É o maior levantamento já feito no Brasil com pessoas em atividade no tráfico de drogas, abordando familiares, renda, sonhos e expectativas
A falta de oportunidades é o principal motivo que empurra jovens para o crime — e também o fator que poderia tirá-los dele.
É o que revela a pesquisa Raio-X da Vida Real, do Instituto Data Favela, realizada em 23 estados brasileiros.
O levantamento ouviu 3.954 pessoas envolvidas com o tráfico de drogas entre agosto e setembro de 2025. O dado mais contundente:
58% afirmam que deixariam voluntariamente o crime caso tivessem renda estável.
Por que parte não deixaria o crime?
À pergunta “Se você tivesse uma oportunidade de deixar o crime, sairia?”, as respostas mostraram contraste:
58% sairiam
31% não sairiam
Mas a análise por estado expôs realidades diferentes. No Distrito Federal, apenas 7% deixariam o crime. Já no Ceará, 41% sairiam e 44% permaneceriam.
Principais motivos para permanecer no crime
Renda baixa e instável
A remuneração criminal não é tão alta quanto o imaginário popular sugere. Segundo o estudo:
63% ganham até dois salários mínimos
Renda média: R$ 3.536
18% terminam o mês sem nada
Para o Data Favela, é um “paradoxo de alto risco e baixo retorno”.
Entrada por necessidade econômica
A maior parte entrou no crime por falta de oportunidades e acreditando que teria uma renda melhor.
Logo percebem que o risco não compensa, o que leva muitos a buscar outras fontes de renda.
Muitos exercem outra atividade paralela
36% têm outro trabalho remunerado
42% fazem bicos
24% montam pequenos empreendimentos
16% trabalham com carteira assinada
14% ajudam em negócios de amigos
3% participam de projetos sociais
O que motiva a saída do crime?
Renda e empreendedorismo
Entre os entrevistados:
22% deixariam o crime se pudessem abrir seu próprio negócio
20% sairiam com um emprego formal
A pesquisa indica que estabilidade financeira é o principal divisor de águas.
Perfil de quem está no tráfico no Brasil
O estudo mostra quem são as pessoas por trás dos números:
79% são homens
21% mulheres
<1% LGBTQIAPN+
50% têm entre 13 e 26 anos
74% são negros
80% nasceram e permanecem na mesma favela
52% têm filhos
42% não concluíram o ensino fundamental
70% se declaram de religiões afro-brasileiras, católicas ou evangélicas
Para 43%, a mãe é figura central
84% não deixariam um filho entrar para o crime
A maior pesquisa já feita com pessoas no tráfico
Foram realizadas 5 mil entrevistas presenciais, das quais 3.954 válidas.
Margem de erro: 1,56 ponto percentual
Nível de confiança: 95%
É o maior levantamento já feito no Brasil com pessoas em atividade no tráfico de drogas, abordando familiares, renda, sonhos e expectativas.
A pesquisa mostra que o tráfico não é destino, mas consequência da falta de oportunidades.
E que renda estável, emprego e empreendedorismo podem ser o caminho mais poderoso para reduzir a criminalidade no Brasil.


