Saúde
Continente americano perde certificação de eliminação do sarampo

© Fernando Frazão/Agência Brasil
Barbosa destacou que a perda é reversível, mas exige compromisso político e vacinação contínua
O continente americano perdeu o status de região livre da transmissão endêmica do sarampo, segundo anúncio feito pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) nesta semana.
A decisão ocorreu após a constatação de que o vírus voltou a circular de forma sustentada no Canadá há mais de 12 meses, o que caracteriza transmissão endêmica.
“Se um país perde o certificado, toda a região perde essa condição”, explicou o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, em coletiva de imprensa.
Barbosa destacou que a perda é reversível, mas exige compromisso político e vacinação contínua.
“Enquanto o sarampo não for eliminado globalmente, nossa região continuará exposta à reintrodução do vírus entre populações não vacinadas. Já mostramos antes que é possível recuperar a certificação com cooperação regional”, afirmou.
De acordo com a Opas, 12.596 casos de sarampo foram confirmados nas Américas até 7 de novembro de 2025 — número 30 vezes maior que o de 2024.
A maior parte (95%) está concentrada em Canadá, México e Estados Unidos, onde também ocorreram 28 mortes.
Atualmente, sete países enfrentam surtos ativos:
Canadá, México, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Paraguai e Belize.
Cerca de 89% dos infectados não haviam sido vacinados ou tinham status vacinal desconhecido.
As crianças menores de 1 ano são as mais vulneráveis e apresentam risco elevado de complicações, como encefalite e cegueira.
“O vírus do sarampo é um dos mais contagiosos do mundo. Uma pessoa pode infectar até 18 outras”, alertou Barbosa.
“Precisamos de 95% da população vacinada com as duas doses em todas as comunidades para interromper a transmissão.”
Apesar de registrar 34 casos em 2025, o Brasil segue certificado como livre da transmissão endêmica do sarampo, condição reconquistada em novembro de 2024.
A maioria dos casos foi confirmada no Tocantins (25), seguida por registros no Mato Grosso (3), Rio de Janeiro (2), São Paulo (1), Rio Grande do Sul (1), Maranhão (1) e Distrito Federal (1).
O surto mais expressivo ocorreu em Campos Lindos (TO), originado por casos importados da Bolívia.
Até o momento, o episódio ainda é considerado ativo, já que o último paciente apresentou sintomas em 12 de setembro — é preciso aguardar 12 semanas sem novas ocorrências para encerrar o surto.
O Ministério da Saúde e a Câmara Técnica para Eliminação do Sarampo mantêm contato com a Opas e reforçam medidas de vigilância.
Segundo Renato Kfouri, presidente da Câmara Técnica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim):
“Estamos detectando os casos precocemente, fazendo bloqueio vacinal e atuando em áreas com baixa cobertura. O maior desafio é garantir a segunda dose, que ainda está abaixo do ideal.”
A diretora da Sbim, Isabela Ballalai, também alertou para o risco de reintrodução:
“O Brasil faz fronteira com países com surtos ativos e mantém circulação intensa com os EUA, onde o vírus se espalha sem controle. Se não atingirmos 95% de cobertura, novos surtos serão inevitáveis.”
A vacina contra o sarampo está disponível gratuitamente pelo SUS e faz parte do calendário básico infantil:
1ª dose: aos 12 meses (tríplice viral: sarampo, caxumba e rubéola)
2ª dose: aos 15 meses (tetraviral: reforço + varicela)
Adultos com até 59 anos que não tenham comprovante ou esquema vacinal completo devem atualizar a carteira de vacinação nas unidades de saúde.


