Economia

Índice de Gini: desigualdade em metrópoles tem menor nível histórico

© Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo

Renda dos 40% mais pobres cresce mais rápido, reduzindo a taxa de pobreza

A desigualdade de renda registrou o menor patamar da história recente nas principais cidades do país. O Índice de Gini metrópoles brasileiras, que mede o grau de concentração de renda, caiu para 0,534 em 2024. Este resultado marca um recorde na série histórica do indicador. Portanto, este dado sinaliza uma melhoria na distribuição do rendimento domiciliar per capita entre os indivíduos que vivem nessas regiões.

O estudo Boletim Desigualdade nas Metrópoles revela o cenário. O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Observatório das Metrópoles, o Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho da PUCRS e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina produzem o boletim em parceria.

O professor da PUCRS e coordenador do estudo, André Salata, identifica dois fatores principais que impulsionaram este resultado positivo. Salata argumenta que não só o aumento da renda obtida com o trabalho, como também a valorização do salário mínimo, contribuíram de forma mais expressiva para a redução do índice.

O pesquisador detalha o cenário econômico:

  • Mercado de Trabalho Aquecido: O país vivenciou um mercado de trabalho mais aquecido, em grande medida se recuperando da pandemia, e registrou baixa desocupação.
  • Valorização do Salário Mínimo: O retorno da política de valorização real do salário mínimo faz diferença, principalmente nas camadas mais baixas da pirâmide social.

“O país está conseguindo aliar esses dois fatores com o controle da inflação. Pra todo mundo está melhorando, contudo, está melhorando proporcionalmente mais para quem está na base da pirâmide”, completa o professor.

O impacto desses fatores foi direto e mensurável: o aumento da renda foi significativamente maior entre os 40% mais pobres. A renda per capita deste grupo saiu de R$ 474 em 2021 e alcançou R$ 670 em 2024. Consequentemente, este patamar também representa um recorde na série histórica.

Desta forma, a melhoria da renda ajudou a diminuir a taxa de pobreza nessas regiões de forma expressiva:

  • A taxa de pobreza saiu de 31,1% em 2021 para 23,4% em 2023.
  • O índice chegou a 19,4% no ano passado.

Isso significa que 9,5 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza entre 2021 e 2024.

Apesar do avanço, a diferença entre os dois extremos da pirâmide social continua bastante expressiva. O boletim indica que, no ano passado, os 10% mais ricos tiveram rendimentos 15,5 vezes maiores do que os 40% mais pobres.

André Salata explica que, mesmo com a queda, o coeficiente de Gini acima de 0,5 já representa um nível de desigualdade muito alto. Além disso, a taxa de pobreza nas metrópoles ainda se aproxima dos 20%.

“Tudo isso indica uma situação social que não é nada desejável. Portanto, se a gente olhar só a foto não há nada a se comemorar. Contudo, quando você olha o movimento dos últimos anos, aí a gente tem motivos para se alegrar um pouco mais, e ser um pouco mais otimista, porque é um movimento de melhoria, de redução da pobreza, de aumento da renda média,” pondera o pesquisador.

O boletim congrega dados das 20 Regiões Metropolitanas do país (incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Manaus, entre outras), além de Brasília e da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina.

Salata enfatiza a relevância do estudo: “Mais de 40% da população brasileira está nas metrópoles, o que significa mais de 80 milhões de pessoas. E quando a gente analisa a desigualdade dentro dessas regiões, a gente tá falando daquela desigualdade que o morador encara diariamente.”

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