Opnião

Um abraço contra o frio e um olhar para o futuro

“As razões que levam uma pessoa às ruas são um emaranhado de questões sociais, econômicas, de saúde mental e emocionais”

O inverno chegou sem pedir licença, trazendo consigo um frio que corta a pele e nos faz buscar o conforto de nossos lares. Na última semana, com os termômetros em Valinhos beirando temperaturas abaixo de 7 graus Celsius, o desafio de se manter aquecido tornou-se uma preocupação diária. Para a maioria, a solução está em um agasalho extra, uma bebida quente. Contudo, para uma parcela da população, a mais vulnerável, a queda das temperaturas representa uma ameaça direta à vida. É neste cenário que a verdadeira face de uma comunidade e de sua gestão pública se revela.

Desde o início de junho, a Prefeitura de Valinhos, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação, demonstrou estar não apenas ciente, mas também proativamente engajada em mitigar os riscos com a Operação Inverno 2025. Liderada com sensibilidade e pulso firme pela secretária Célia Leão, a iniciativa não é apenas uma resposta protocolar, mas um gesto de humanidade que merece ser destacado e aplaudido. A ação vai além da simples distribuição de cobertores; ela representa a oferta de um porto seguro.

A ampliação do acolhimento com a criação de um Abrigo Emergencial exclusivo para homens, somando 20 novas vagas às já existentes no Abrigo Reencontro, é uma medida concreta e vital. Oferecer um teto, alimentação, condições de higiene e, acima de tudo, segurança e dignidade em noites gélidas é o mínimo que se pode fazer por quem já perdeu tanto. A atuação integrada com a saúde e a segurança pública demonstra um planejamento articulado, essencial para lidar com uma questão tão multifacetada.

É preciso compreender a dimensão do desafio. Em uma única noite de abordagem na região central, das 13 pessoas encontradas, apenas três eram de Valinhos. As outras dez estavam de passagem, um retrato fiel da realidade de toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC). Esse dado não deve servir para eximir responsabilidades, mas sim para enaltecer o esforço local, que acolhe sem distinção de origem, e para nos lembrar que a questão da população em situação de rua é um fenômeno regional e complexo, que transborda as fronteiras municipais.

As razões que levam uma pessoa às ruas são um emaranhado de questões sociais, econômicas, de saúde mental e emocionais. O álcool e as drogas, muitas vezes presentes, funcionam mais como uma anestesia para uma realidade insuportável do que como a causa primária do problema. O papel do poder público, neste contexto, não é julgar, mas oferecer alternativas. A equipe do SEAS e do Abrigo Reencontro, que percorre as ruas buscando ativamente convencer essas pessoas a aceitarem ajuda, pratica o respeito em sua forma mais nobre. E, quando a ajuda é recusada — uma decisão que também precisa ser respeitada —, a entrega de um cobertor torna-se um símbolo de que, mesmo à distância, a cidade se importa.

Contudo, o que diferencia a atual gestão é a visão que transcende o emergencial. Valinhos, em sintonia com as discussões mais avançadas na RMC e no mundo, já trabalha com a perspectiva do programa “Housing First” (Moradia Primeiro). Essa metodologia inovadora quebra um paradigma crucial: em vez de exigir que a pessoa resolva todos os seus problemas para então “merecer” uma casa, ela oferece a moradia como ponto de partida. A estabilidade de um lar é o alicerce sobre o qual se pode reconstruir a saúde, a sobriedade e a reintegração social.

Ao adotar essa linha de pensamento, a cidade sinaliza que a Operação Inverno não é uma ação isolada, mas o passo imediato e necessário dentro de uma estratégia maior e mais duradoura. É a combinação da ação emergencial, que salva vidas hoje, com o planejamento estratégico, que busca soluções permanentes para o amanhã.

Enquanto a construção de um país socialmente justo, com educação de qualidade e uma economia inclusiva, permanece como nosso grande horizonte, são ações como a Operação Inverno 2025 que fazem a diferença no aqui e agora. Valinhos, sob a liderança de Célia Leão e o empenho de suas equipes, demonstra que é possível, sim, aquecer a cidade não apenas com abrigos, mas com gestão competente, humanidade e, sobretudo, uma solidariedade que abraça e acolhe.

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