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ENTREVISTA Inayá Trovatti

RAIOS-X
Nascimento: Fernandópolis-SP
Nome: Inayá Martins Trovatti
Idade: 19 anos
Formação: Estudante de biologia – UFSCar/Campus Sorocaba

ENTREVISTA Inayá Trovatti
“Fiquei chateada por ter que mudar muita coisa na minha vida”

Aos 19 anos jovem deseja voltar à rotina que tinha antes do diagnóstico da doença

Vanessa Plácido
Repórter

Inayá Trovatti mora em Valinhos há 9 anos e em setembro do ano passado foi diagnostica com leucemia linfoide aguda (LLA), é um câncer que ataca as células de defesa do sangue. Havendo a necessidade de precisar de transplante de medula óssea, ela publicou em suas redes sócias sobre o assunto e destacou a importância, deste ato para ajudar não apenas ela como milhares de pessoas. O post alcançou 1.344 compartilhamentos e dentre eles o do artista Rafael Cortez, que se sensibilizou com a situação. Em entrevista a Folha de Valinhos, Inayá conta como tem lutado contra a doença.

Folha de Valinhos: Quando descobriu sobre a doença e qual foi a sua reação?
Inayá Trovatti: No dia 19 de setembro, na verdade o diagnóstico de leucemia saiu dia 6 de setembro e logo comecei a quimioterapia, fiquei 32 dias internada da primeira vez. Tive muita febre e só vomitava. O diagnóstico demorou um pouco para sair por que eu tive uma síndrome antes, chamada síndrome hemofagocítica, que tem sintomas parecidos com a leucemia e também com outras doenças, então ficou confuso. Fiquei bem debilitada no começo, perdi muito peso, minha mãe tinha que me dar banho… Fiquei surpresa com o diagnóstico final, mas já desconfiava por causas dos exames que estávamos fazendo, fiquei chateada por ter que mudar muita coisa na minha vida.

A partir daí, o que mudou na sua rotina?
Muita coisa! Bom, posso dizer que tudo…
Faço o tratamento no Centro Médico de Campinas, todo mês interno por duas semanas para fazer quimioterapia e quando saio tenho que voltar toda semana pra fazer exame e transfundir. Além disso, se algo acontece, tipo febre ou se me machuco, tenho que correr para o hospital.
Minha imunidade fica muito baixa, porque a quimioterapia mata as células saudáveis também, então as células de defesa vão junto. Para isso tomo injeção pra estimular a imunidade, não posso ter contado com pessoas doentes, não posso ficar em lugar sem circulação de ar, nem que tenha muita gente. Não posso comer em restaurantes porque não sei como foi o preparo do alimento. Em casa, minha mãe toma o maior cuidado, lava a salada com hipoclorito, todos os alimentos tem que ser bem cozidos, não posso comer nada que não tenha passado por alta temperatura, inclusive minha água, é fervida. Ela limpa a casa mais de uma vez por dia e eu uso máscara hospitalar pra proteger dos bichos que ficam no ar. Além de mais uns 10 comprimidos todos os dias para me proteger.
Não posso fazer exercício físico por causa do meu sangue que é sempre abaixo, vivo fazendo transfusão (quem me conhece sabe que amo esporte – risos) e eu também não aguento, fico muito cansada.
Muita gente pergunta sobre meu cabelo ou diz "a cabelo cresce?", olha, eu realmente não gosto desse tipo de comentário, eu sei que cabelo cresce e quando caiu não foi um problema pra mim, outras coisas me incomodam mais, tipo o enjoo, vômito, procedimentos dolorosos, enfim… – risos.

Quais pessoas são importantes para você nesse momento e como elas têm te ajudado?
Meus pais e meu namorado são as pessoas que estão comigo todos os dias, ah! Minha irmã também. Ela não entende muito, mas se preocupa demais comigo, cuida igual bebê – risos. Daí tem o apoio de toda família e amigos, aqueles que ajudam de verdade, fazem acontecer.

Sobre a doação de medula óssea, qual a importância disso para você e para outras pessoas nessa mesma situação?
Bom, o transplante de medula é algo delicado. Como qualquer corpo estranho, o organismo pode rejeitar, mas se aceitar pode ser muito bom, pois é uma medula saudável que vai entrar no lugar da doente. A quimioterapia pode reverter à doença sem transplante, porém o processo é muito mais demorado. Imagina só poder parar com toda essa dor um tempão antes? Nossa não vejo a hora de voltar a fazer minhas coisas. Ir para a faculdade, me arrumar pra sair, comer sem medo…

Algum conhecido já realizou a doação?
Sim, nossa, muita gente já foi doar sangue e cadastrar medula. Um amigo meu juntou todo mundo da faculdade, amigos e professores para doar. Fiquei tão feliz… Quem pode vai, várias pessoas, até mesmo quem eu não conheço, vêm-me dizer que foi fazer o cadastro. É uma coisa tão simples, só tirar um pouco de sangue, muita gente acha que já vai doar medula de primeira, furar as costas, mas não. Primeiro tem que saber quais são os genes presentes na sua medula, daí fica em um banco de dados junto com o de todas as pessoas e daí se for compatível com alguém, à equipe de transplante te liga para saber se ainda quer doar e começar o tratamento. Não dói, é feito com anestesia e você sai andando (eu faço o mesmo procedimento duas vezes por mês).

É importante destacar que o Rotary Club Valinhos realiza mensalmente em parceria com a Unicamp o cadastro para doação de medula óssea. A chance de um paciente que necessita de medula óssea encontrar um doador são de 1 em cada 100 mil pessoas, em média. 

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